A cada semestre, pessoas muito esforçadas se aproximam de realizar um dos grandes sonhos de suas vidas, e nem imaginam a armadilha que estão prestes a cair. Com a atenção dedicada apenas aos trabalhos e provas finais, um dia essas pessoas são visitadas em suas salas de aula por alguma empresa especializada em eventos de formatura.
Eles entregam uns panfletos sem as fotos de formaturas anteriores, e pedem que os interessados em participar de um baile, entrem em contato através do telefone impresso. (Dessa forma a negociação é individual... Já perceberam a malandragem? Assuntos assim não deveriam ser decididos individualmente, pois em grupo somos mais fortes). Alguém pensou em “comissão de formatura”? Deveriam.
Montem uma comissão de formatura!
Aqui a minha turma e eu erramos, pois ao sermos informados que a colação de grau não seria cobrada, e como a decisão de participar do baile era individual, todos voltaram a priorizar seus trabalhos, e ninguém questionou porque a colação seria “gratuita”.
Quando existe de fato uma “comissão de formatura”, alunos são eleitos com uma boa antecedência para representar os colegas, e encontrar a melhor opção dentre as empresas que organizam formaturas, depois ainda negociam com a empresa escolhida algumas melhorias na proposta antes de fechar um contrato. Preste atenção, aqui eu cito a necessidade de um contrato.
O que deve constar no contrato?
O ideal é que o contrato estipule as regras para o dia da formatura, a descrição dos produtos (Fotos, DVD, Pôster...) e principalmente o preço de cada um desses produtos. Isso é fundamental para escapar das armadilhas, pois lembre-se que as empresas lidam com isso o tempo todo, e que os alunos e seus pais talvez nunca tenham passado ainda por esta experiência.
Descubra se as filmadoras e máquinas fotográficas estão proibidas no dia da formatura para que seus convidados não passem o constrangimento de serem revistados na porta como possíveis criminosos. Gostaria de saber como vão fazer agora que celulares mais modernos tiram fotos com mais de 5.0 Mega Pixels. Vão reter os celulares também, ou vão expulsar do recinto um pai de formando que sacar seu celular?
Busque no Google por modelos de contratos de outras empresas para que possa ter alguma referência do que deve constar no seu contrato, e mesmo que sejam empresas de outras cidades, saber se o preço que te cobram será justo ou abusivo.
As negociações nebulosas
Parece ser uma ótima notícia saber que a sua faculdade fez um acordo com a empresa de formatura para que a colação de grau não seja cobrada. Nem o aluguel da beca você pagará. A condição é que no dia da colação, nem você, e nenhum dos seus convidados poderá registrar o evento porque o única forma de ganho deles será na venda das fotos e filmagens.
Espere um pouco... Quem negociou? A faculdade? Saber que não teremos custos com o evento costuma embriagar as pessoas, e nesse momento ninguém se lembra de comissão de formatura, ou se alguém levará vantagens quando você for explorado na venda do álbum.
Não se surpreenda se descobrir que uma comissão de formatura fantasma, composta por “colegas” sem nenhuma ética, e com forte desvio de caráter, fechou um acordo ruim em troca de um álbum de fotos gratuito. (Para eles, é claro...) Vou tentar imaginar que as faculdades não ganham nada com isso também.
A festa acabou!
O evento foi emocionante, e você foi inocente o suficiente para se deixar fotografar muitas vezes, afinal queria registrar tudo. Fotos com a família, com os convidados, com seus colegas formandos, com os professores, e em várias delas sozinho segurando seu diploma.
Você não vê a hora de ter as fotos nas mãos para reviver aqueles momentos inesquecíveis que representam uma grande vitória na sua vida. Só que as empresas sabem que se uns quatro ou cinco meses se passarem, a sua vontade de ter as fotos aumenta consideravelmente, e eles não terão pressa para te ligar.
Se você não resistir e ligar perguntando, acaba de se entregar demonstrando que deseja muito essas fotos. Eles vão te dizer que demora mesmo para ficar pronto porque atendem muitas faculdades, e que o processo de tratamento digital das fotos é feito com capricho. Tudo no sentido de valorizar mais o produto que está nas mãos deles.
O sequestro
Um dia perdido no futuro eles te ligam para marcar uma visita e mostrar o álbum, e a quantidade de manifestações de euforia que você deixar transparecer no telefonema é proporcional ao tamanho do sorriso do vendedor no outro lado da linha. Ele tentará não adiantar nada sobre os custos, mas se você insistir muito vai descobrir que eles querem mais de R$2.000,00 por umas 35 fotos!
Ainda vai descobrir da pior maneira o que é uma venda casada, pois o DVD custará R$150,00 e uma foto-pôster também sairá por R$150,00. Você não é obrigado a ficar com eles, mas curiosamente não podem ser comprados individualmente. Se pagar pelo álbum, ganha o direito de comprar os outros itens. É agora que eu posso rir, ou é daqui a pouco? Se isto não é venda casada, eu não sei citar um exemplo melhor.
E é impossível não fazer a comparação com um seqüestro. (Não comparo o terror de ver uma pessoa querida ameaçada, mas em um grau bem menor é o que eles fazem com as suas fotos). Alguém te liga informando que tem em sua posse, um “bem” querido e muito estimado por você, mas que para eles não tem nenhum valor emocional. Eles têm a cara de pau de dizer que não há problema se você não quiser o álbum porque eles não terão prejuízo se reciclarem o álbum. Se eu não ri antes, agora é inevitável...
Menosprezam sua inteligência quando afirmam que uma empresa de reciclagem vai pagar um valor razoável no papel fotográfico usado nas suas fotos. Leia uma adaptação bem humorada dessa negociação de seqüestro:
-Alô! Serei objetivo. Estou com suas estimadas fotos da formatura, e se você não me pagar R$2.000,00, vou pendurar suas fotos de ponta-cabeça, e vou mergulhar cada uma delas no ácido sulfúrico, e isso me trará muito prazer! (Gargalhadas demoníacas...)
-Pode mergulhar.
-O quê? Eu disse que vou jogar suas queridas fotos em um rio de lava!
-Bem criativo. Pode ser dessa forma também. O álbum ia ficar largado no meu armário mesmo...
A ameaça
Você pode demonstrar a frieza do diálogo acima, mas não pode fazer uma coisa. Pedir para ver o contrato. Elas podem cobrar o preço que quiserem já que não sou obrigado a comprar, mas quem assinou esse acordo? Eu quero ver...
Peça o contrato, e veja o vendedor ser possuído, ficar vermelho e até mudar a voz para um tom centenas de vezes mais grave. O contrato para eles é como a cruz para o vampiro. Se você disser que está muito bem informado sobre esse tipo de exploração, e que perdeu toda a vontade de ter essas fotos, ele vai alegar que você não será procurado no futuro com um preço mais baixo. (Bom, ele acabou de se entregar porque é isso mesmo que eles fazem, e nem foi preciso você dizer isso).
Agora, nunca diga que você vai avisar seus colegas que ainda não se formaram. E que nem passe pela sua cabeça afirmar que vai contar toda essa história em um blog e divulgar em seguida em várias redes sociais. Não seja louco de dizer que a sua intenção é fazer com que qualquer pessoa que procure por “Álbuns de formaturas = Exploração” no Google vai encontrar daqui para frente algo que ajude a acabar com essa indústria de exploração.
Eu ouvi o “conselho” do vendedor para ter cuidado para não ver o tiro sair pela culatra. O que ele vai fazer? Me matar? Se eu sumir, divulguem na imprensa, ok? Um mártir costuma ser pior nesses casos.
Me processar? Eu citei algum nome de empresa ou pessoa nessa postagem? Não, eu fiz uma denúncia para que você saiba o que fazer ANTES da sua formatura, porque depois a única coisa que você poderá fazer é recusar e fazer um post como esse. Escolha as empresas honestas que trabalham com clareza nos contratos, e que praticam preços justos.
Se me ajudarem a divulgar, eu agradeço muito, mas nem será um favor para mim, e sim para milhares de pessoas que se formam a cada semestre. Faça a sua parte para acabar com essa máfia!
(Se alguém pretende comentar afirmando que estou desmerecendo o trabalho dos fotógrafos, antecipo minha resposta desde já: Eles receberam pelo evento um valor absurdamente menor. Se alguém desvaloriza o trabalho deles, não são os formandos que recusam ser explorados).